quinta-feira, 13 de outubro de 2011

VERDE: A COR DA NOVA ECONOMIA


As energias renováveis fomentam um mercado bilionário e, além de ajudar a limpar o planeta, serão um dos motores para salvar a economia.


Peng Xiaofeng, de 33 anos, acaba de virar o 4º homem mais rico da China, com uma fortuna de US$ 3,96 bilhões. No ano passado, ele era o 6º. Nada mau num ano em que magnatas do mundo todo perderam muito com a crise. Outro que tem motivos para comemorar é Shi Zhengrong, 45 anos. Ele pulou da 25ª posição para a 8ª, com US$ 3,1 billhões.

Essas histórias não teriam nada de mais não fosse o trabalho dos dois empresários: fazer painéis solares. Num país movido a carvão, o combustível mais poluente que existe, eles juntaram bilhões com uma fonte de energia limpa, que não queima combustíveis fósseis nem libera CO2 na atmosfera.


Peng e Shi não estão sozinhos. O dinheiro investido em fontes sustentáveis subiu de US$ 33 bilhões em 2004 para US$ 148 bilhões até o final do ano passado. Um salto de 450%. “A mensagem desses números é clara: a energia verde já é um investimento de primeira linha, e continua acelerando”, disse o alemão Achim Steiner, chefe do Programa da ONU para o Ambiente. E a coisa tem espaço de sobra para crescer, já que hoje só 13% da energia mundial vem de fontes limpas.

É tanto espaço que, para o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, são justamente elas que podem tirar a economia mundial do buraco. Por dois motivos. Um: para que o aumento da temperatura mundial seja de apenas 2 oC em 2050 – e não os catastróficos 7 oC previstos hoje – temos de cortar nossas emissões de carbono pela metade, então as alternativas ao petróleo e ao carvão têm de vir já. Dois: para o mundo recuperar a saúde financeira, temos de criar empregos o mais rápido possível. E a economia vive em ciclos, impulsionada por um novo motor de cada vez. Nos anos 90 era a tecnologia, que criou 1,6 milhão de empregos só nos EUA. Depois que a bolha da internet estourou, o dinheiro migrou para a especulação imobiliária. O sistema financeiro ficou grande, forte e deu impulso ao maior crescimento econômico da história. Agora que essa página está virada, o capitalismo precisa encontar um motor novo. Opa: que tal um mercado que já cresce muito e é vital para a sobrevivência do planeta? Pois então. E não é só Ban Ki-moon que imagina a energia limpa como salvadora da economia.

Alguns dos governantes mais poderosos do mundo estão colocando bilhões de dólares em fichas nessa mesa. Barack Obama, por exemplo. O homem que assume a Casa Branca em janeiro quer gastar US$ 150 bilhões em ajuda para as empresas que desenvolverem tecnologias limpas – seja painéis solares, carros elétricos, etanol de celulose ou o que for. A idéia é fazer a iniciativa privada entrar nessa de cabeça em busca de lucro, como fazem muito bem os magnatas chineses. E lucro é a motivação mais eficiente que existe. A brincadeira, segundo Obama, vai abrir 5 milhões de vagas nos próximos 10 anos. Só para comparar: os EUA geram 2 milhões de empregos por ano, em épocas boas. Isso dá uma idéia de como o plano pode mexer com o país, não? Seria mais ou menos uma versão verde do New Deal, o programa que o presidente Roosevelt implementou nos anos 30 para reaquecer a economia dos EUA, criar empregos e tirar o país da Grande Depressão.

O que nos EUA ainda está no papel, na Europa já começou a se concretizar. Na Alemanha, a indústria da energia verde emprega 250 mil pessoas hoje, o dobro de 2004, graças a incentivos do governo. E a expectativa é que até 2020 o setor ultrapasse o da fabricação de automóveis como o que mais gera empregos lá – isso num país que é a casa da Volkswagen, da Mercedes, da BMW, da Porsche...

O Reino Unido segue essa toada: eles planejam gastar US$ 100 bilhões em turbinas de vento na próxima década para aposentar usinas de carvão. “Dizem que as dificuldades financeiras de hoje tiraram o aquecimento global do topo da lista de preocupações”, falou recentemente o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. “Acredito que seja o contrário.”

Nicholas Sarkozy, da França, também: ele aprovou no Parlamento o gasto de centenas de milhões de euros para os próximos anos em energia limpa. E espera que, além de cortar boa parte da emissão de CO2, isso crie 500 mil vagas.


Carros movidos a vento

Um dos projetos mais arrojados nessa linha, porém, não está nos EUA nem na Europa, mas em Israel. O país quer se livrar da dependência de petróleo estrangeiro o mais rápido possível – uma necessidade para quem é visto como inimigo número 1 pelas nações que dominam o comércio dos barris. A idéia, então, é substituir a maior parte da frota do país por carros elétricos.

O pontapé inicial do projeto veio da iniciativa privada. Shai Agassi, um empresário israelense radicado nos EUA, convenceu o governo a cortar impostos de carros elétricos e juntou US$ 200 milhões de investidores para montar uma rede de postos de recarga. Com o compromisso do Estado e o dinheiro na mão, faltavam os carros. Então sua empresa, a Better Place, fez um acordo com o brasileiro Carlos Ghosn, presidente mundial da Renault, para que a montadora desenvolvesse carros elétricos para esse futuro mercado israelense. Resultado: 50 protótipos elétricos e os primeiros “postos de eletricidade” devem estar nas ruas de Tel-Aviv no ano que vem. A montadora francesa diz que estará pronta para fabricar seus elétricos em massa a partir de 2011, e Agassi promete instalar milhares de postos de recarga até lá.

Tem mais: Israel não deve ser o único a abraçar pra valer os elétricos. A Dinamarca também gostou da idéia e está negociando com a Better Place. Note que o país escandinavo já tira 20% de sua eletricidade de usinas eólicas (é o campeão mundial nesse quesito). Encher um lugar assim de carros elétricos significa, na prática, uma frota movida a vento. Nada poderia ser mais verde.

Se essas e as outras iniciativas derem certo, os professores de história do século 22 poderão dizer: “Depois da Grande Crise de 2008, as energias limpas começaram a receber cada vez mais investimentos. E é por causa disso que vocês estão aqui agora, crianças”.



por Texto Alexandre Versignassi e Barbara Axt

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